Djanira Pio, a grande dama da poesia brasileira

Conheci Djanira Pio em setembro de 1997 na cidade de Santa Rita do Passa Quatro (SP) durante a cerimônia de premiação do Concurso Nacional de Poesias Zequinha de Abreu, promovido pela Academia Santarritense de Letras, onde eu fora classificado com o poema “Cincerro”. Já nos correspondíamos há alguns anos, mas sua presença radiante e a confirmação daquela amizade foi a maior das honrarias que tive na ocasião. Desde então ela está presente em minha existência, sempre atenta, como uma irmã querida. Silenciosa, solidária, delicada e inspirada, Djanira produz uma literatura extremamente concisa e lírica, por vezes triste ou desesperada, resgatando suas origens paulistas e a presença feminina em nosso país. Vamos conhecê-la melhor!

Apresentação. Fale-nos um pouco sobre você.
Djanira — Hoje sou professora aposentada, casada, três filhos. Olhando para trás penso que só cumpri deveres e alguns ficaram esperando. Nasci em 02/04/1935 na fazenda de meus pais em Santa Rita do Passa Quatro, hoje cidade poema, terra de Zequinha de Abreu, que cada vez mais admiro. Aos quinze anos mudei-me com a família para São Paulo, para dar continuidade aos estudos. Formei-me primeiro professora primária e mais tarde, em Letras.
Como a literatura surgiu em sua vida?
Djanira — Comecei a me encantar pela literatura, no Ginásio, em Santa Rita, através dos livros escolares e comecei a fazer poemas, todos metrificados e rimados. Considerava um lindo joguinho. Tive pais leitores e isso influenciou muito.
Quais suas grandes influências e pessoas que admira?
Djanira — Li muito, era uma coisa natural. Comecei pelos estrangeiros, depois fui conhecendo os nacionais, aqueles clássicos que a escola indicava. Mas logo tomei conhecimento da Biblioteca. Não escolhia autores, lia tudo, os títulos atraiam, as capas também.

Quantos livros você lançou, e que estilos abrangem?
Djanira — Escrevi muito, era uma coisa natural. Publiquei muito. Publiquei poemas, contos, minicontos e até arrisquei um romance, que depois virou uma trilogia. Falo sobre a vida, principalmente das mulheres.
Sua opinião sobre a atual cena cultural brasileira (e paulista).
Djanira — No Brasil e em São Paulo a cena cultural não muda muito, não deixa de ser uma luta como todas as outras. É um país que falta pão e perde alimentos. Faltam leitores, incentivos, revistas literárias, mas quem gosta de escrever continua no ofício, como puder.
Um momento (de sua existência) que ficou na memória.
Djanira — Momentos especiais na vida de todas as pessoas são muitos, bons e maus. Está no programa do viver e deixam marcas. A publicação de um novo livro é um momento de alegria, uma realização feliz.
Fale-nos sobre seu processo de criação.
Djanira — Sou observadora e crítica. Vou assimilando tudo. Amo a Natureza em todos os detalhes. Amo o Universo. E observo o mundo civilizado também. Basta reservar um momento, sentar e escrever; muita coisa se perde, muitas não.
O que é poesia para você? Qual estilo lhe atrai?
Djanira — Poesia é uma bela manifestação artística, a arte de falar muito em poucas palavras. Deve ser suave, poética e trazer mensagens. Uma foto artística por meio de palavras. Todos os estilos são bem vindos. Particularmente espero sentir o perfume do poema.
Deixe um conselho a quem está começando na literatura.
Djanira — Aos que estão começando espero que seja um grande e bom leitor. Encontrarão muitas dificuldades para publicar e divulgar e também muita recompensa. Não desistir nunca, a não ser que se desinteresse. Que não seja pelos outros.
Como as pessoas podem contatá-la e apoiar ou adquirir o seu trabalho?
Djanira — Contatos são feitos pelas redes sociais, como por exemplo o Facebook.
Quais seus planos para o futuro?
Djanira — Para o futuro, pretendo ter muita tranquilidade, ver com calma o tumulto todo. Continuar lendo, visitar livrarias, sebos e escrever à medida do possível. Observar os caminhos do mundo, do Brasil, da Arte, principalmente da Literatura. E torcer muito para o Homem caminhar com mais consciência e responsabilidade.
Três vezes Djanira
“Não tenho foto com ela nem a conheço pessoalmente. Conheço a Débora, filha, que gentilmente veio até a minha casa e generosamente me presenteou com vários exemplares de livros de autoria da Djanira Pio. Acho-a uma pessoa sensível e uma escritora de nível, que consegue com poucas palavras dizer muito. Ela tem a capacidade de sintetizar os próprios textos, que causam admiração.” — Cida Micossi, professora aposentada, escritora e fotógrafa amadora / Santos (SP)
“Mamãe vem de uma família com veio artístico, o pai era músico, a avó desenhava — uma das irmãs era pintora e duas outras, escritoras. Sempre houve uma biblioteca em casa. Foi uma mãe extremamente preocupada com o bem-estar dos filhos, no sentido de termos saúde, de termos a mesa farta, de termos estudos. De nos proteger, também. Somos três filhos. É participante de várias antologias. Consta no Dicionário de Escritoras Brasileiras, organizado pela professora Nelly Novais Coelho; na Enciclopédia de Literatura Brasileira, organizada por Afrânio Coutinho e J. Galante de Souza e no Dicionário de Mulheres, organizado por Hilda Agnes Hubner Flores. Prestou serviços na Imprensa Paulista, nos anos 1960.” — Débora Pio-Ranfou, professora / Atenas (Grécia)
“Tenho lindas recordações de Djanira Pio! Sempre foi muito amiga da minha mãe, a escritora Maria Lucia Silveira Rangel. Lembro-me da parceria ‘na escrita’ entre as duas; a cada nova produção, minha mãe buscava a opinião da amiga Djanira Pio. Havia uma profunda união entre as duas. Minha mãe a considerava uma grande escritora. E concordo com ela, os livros de Djanira são agradáveis e muito bem escritos, gosto de ler os seus livros, especialmente, quando aborda a questão feminina. Gostaria de dar um abraço muito afetuoso nela e dizer que sempre foi uma referência para minha família.” — Maria Julia Rangel de Bonis, professora da Escola de Aplicação da USP / São Paulo (SP)

Da extensa bibliografia de Djanira Pio, destacamos os livros “Opções” (1978), “O Lado Avesso” (1987), “Seres Humanos” (1991), “A Cidade dos Sonhos” (2004), “Seu Nome Era Susana” (2009), “A Difícil Vida Inteligente” (2010), “Olhares” (2011), “O Ciclo da Vida” (2015) e “Vivências” (2016).