Sons dos Pássaros, por Cida Moreira e Eduardo Waack

Apesar de bastante simples, “Sons dos Pássaros” é um dos poemas por quem tenho maior afeição. Escrito na Vila de Nazaré, em Pernambuco, entre outubro e novembro de 1987, influenciado pela leitura de “Mar” (1960), sons do Oceano Pacífico de Big Sur, de Jack Kerouac. Nesse poema busquei reproduzir gramaticalmente um pouco dos cantos que ouvi dos pássaros silvestres, numa linguagem onomatopaica e instintiva. Diariamente algumas crianças, filhas de pescadores, passavam em alegre cantoria em frente à cabana onde morávamos ao dirigir-se à escola, no Cabo de Santo Agostinho. E também permaneci muitos momentos em silêncio em meio à floresta, com uma caneta e o caderno na mão, ouvindo atento e tentando gramatizar o canto dos pássaros e demais ruídos do local. Inspirado por aqueles momentos mágicos, surgiu aquele que intitulei “Poema Sinfônico”, composto de várias partes, do qual apresentamos as duas primeiras. Essa gravação foi realizada em Analândia (SP), entre os dias 15 e 16 de dezembro de 2020. As imagens magistrais revelam a paisagem bucólica do interior paulista ainda livre da cana-de-açúcar. A leitura ocorreu no alto do Morro do Cuscuzeiro, onde um vento gritante quase sobrepôs-se à nossa voz, pois filmamos com equipamentos amadores. Na trilha sonora incidental, a bela Uirapuru, de Heitor Villa Lobos, em interpretação da Orquestra Sinfônica Nacional, sob regência de Ligia Amadio. O canto do Sabiá Verdadeiro que aparece no início foi captado pelo ornitólogo Johan Dalgas Frisch, em seu registro Vozes da Amazônia. Mas a grande surpresa deste vídeo poema é a participação de Cida Moreira, divina rainha da MPB que empresta sua voz inconfundível à poesia “Serpente”, logo nos primeiros instantes desta produção. Cida transita com desenvoltura pelo cinema, teatro e a música, e entre os discos que lançou destacamos “Summertime” (1981), “Abolerado Blues” (1983), “Cida Moreira Canta Chico Buarque” (1993), “Angenor” (2008) e “Soledade” (2015). Com opiniões fortes e presença cênica marcante, ela é simples e complexa, brasileira e universal: contemporânea, eterna, gentil e reluzente. De imediato aceitou participar conosco, e com profissionalismo exemplar enviou-nos em poucos dias o arquivo de áudio aqui inserido, numa interpretação ao mesmo tempo clássica e dodecafônica. #poesia